Melancolia
Por Guilherme G. Henschel
Entrava com um rosto triste em um quarto deprimente e escuro, liguei a música. Doce música como harpas celestiais ecoando no quarto em que me encontrava. Vi a carta que me esperava na mesa ao meu lado. Abria-a, retirei o conteúdo, feito a partir da celulose, este riscado em uma maneira quase artística com um produto a base de carbono. A carta estava manchada e amassada, não liguei, apenas li. Lágrimas correram quando terminei de ler.
“Em todos os meus sonhos eu falo: ‘Não estou apaixonado por você’
Mas todos os dias eu falo, eu faço
Você mexeu com a minha cabeça muitas vezes
Me Forçou a amar você.”
Last Drop Falls, Sonata Arctica
Cai, na cama, desajeitado. Pensei, gritei em desespero, cai nas sombras da melancolia. Horas sem pensar em nada, horas olhando para o této, ou foram apenas alguns minutos, talvez dias, não sei, não lembro. Lágrimas sempre rolam, mas as minhas sempre rolarão em meu rosto etéreo.
“Nada é o que parece
Sou uma replica, Sou uma replica
Casca vazia dentro de mim”
Replica, Sonata Arctica
Murmúrio infernal fazia se do lado de fora de minha porta. Devo ter desmaiado quando fechei meus olhos. Uma dor invadia minha mente, dor latejante. Bate-me como um soco no estômago, uma ânsia de vomito. Não resisti, coloquei puro acido para fora. Outra lágrima escorreu pelo meu rosto, outro momento de dor. Levantei-me, levei-me até a porta, apesar da tontura.
“Bem vindo às terras ermas
E você vai encontrar cinzas
Nada, porém cinzas”
Trial of Tears, Dream Theater
Girei a maçaneta, abri a entrada de meu “covil”. Avistei um corredor escuro, mobiliado por moveis rústicos, e ao lado de uma estante uma garrafa de vidro com liquido incolor. A garrafa possuía um rotulo preto e escrito em cor branca um palavra estranha, provavelmente de origem russa. Peguei-a, coloquei-me em movimento e entrei na segunda por a esquerda, era a cozinha.
“Lá havia vozes no corredor
Eu sei que elas falavam:
Bem-Vindo ao Hotel Califórnia”
Hotel California, Eagles
A música ainda ecoava pelo corredor, aquela me trazia os fantasmas do passado. Sentei-me a mesa, trouxe a mim o pequeno copo de vidro incolor, despejei o liquido de mesma coloração no copo. Tornei-o, senti o liquido descer pela minha garganta, cortando meu esófago. Esqueci o copo, retirei o dosador e passei a beber da garrafa, acredito der deixado-a vazia.
“Pela luz do novo Dia
Eu Vou Sumir”
My Selene, Sonata Arctica
Uma luz branca incomodava meus olhos enquanto acordava e abria-os. Alguém esta ao meu lado não o reconhecia, na verdade não conseguia ver seu rosto. Ele saudou, e perguntou o que eu sentia. Não entendi a pergunta, mas logo senti uma forte dor de cabeça, virei ao lado e regurgitei. Uma risada sarcástica se misturou com a música que ainda tocava.
“Um doutor sentado ao meu lado
Perguntou-me como me sentia
Não sei ao certo se entendi a pergunta”
Octavarium, Dream Theater.
Senti-me fraco e provavelmente desmaiei, ou talvez, apenas dormi. Encontrava-me em um beco escuro e sujo, tentava chegar até a luz das ruas, mas eu não saia do lugar. Parei, suspirei, não estava mais no beco, e sim em um praça, essa cheia de pessoas. Tento olhar nos rosto dos transeuntes, e vejo apenas um rosto. Uma lágrima escorre pelo meu rosto e cai ao chão. Abro os olhos e vejo um teto familiar. A música ainda tocava.
“Talvez um Místico - com previsões a contar
Apreenda minha moeda no velho Poço dos Desejos”
Awakenings, Symphony X
Não queria estar ali preso, aquela repudiável vida; mas, ali, eu estava, e não ia desistir. Uma mão estendida tentava me levantar, no entanto meu corpo negava a informação de movimento. Tentei novamente, foi então que quebrei o meu bloqueio. Levantei assistido pela mão amiga, peguei meu casaco jogado no cabide e sai da minha prisão melancólica.
“É a vida real?
É só Fantasia?
Pego em um terreno lateral
Sem escapatória da realidade”
Bohemian Rhapsody, Queen
Ponto de partida de minha jornada, esta para o retorno de minha fútil, mas feliz, vida. O carro negro por dentro e por fora, a musica triste me levando de um túmulo a outro, carregando alma e corpo até o cemitério onde meu coração estava enterrado. A fúnebre entrada possuía uma plaqueta de mensagem religiosa, e por traz dele as covas estagnadas e esquecidas, um caminho de pedras e mórbidas árvores fazendo sombra para quem não necessita mais.
“Eu choro por você
Deixando-me para reclamar
Eu morri por você
Eu desisti de tudo”
Died For You, Iced Earth
O Túmulo fresco sobre cuja tampa possuía flores brancas. Deixadas ali, esquecidas ali, junto a velas, chamas da vida. Quem sabe? Quem Não sabe? Não deixei flores para meu amor, ela não iria querer flores. Mas deixei lágrimas enquanto o vento frio, provindo das ermas nuvens cinza de uma tarde de inverno, assovinava nas passarelas. Sai por entre túmulos acompanhado de meu consolo mortal, de quem não ainda não me deixou, daquela que neste triste fim... me ajudou.