sábado, 1 de novembro de 2008

212

212

 

Respirou fundo e se jogou na sua cama do jeito que estava - calças jeans cheirando a vodka, camisa branca fedendo a cigarro e tênis preto, todo molhado pela chuva que caia do lado de fora da janela. A luz ainda estava ligada, não iria desligá-la, sabia que logo iria se levantar e tomar um banho. Olhava aquele teto tão conhecido, com todas as linhas tortas já concertadas. Sua mente havia parado ali, naquele momento infortuno que olhou para a cobertura de seu domicilio, mas seu coração ainda estava pulando.

Passou os olhos no criado mudo e viu seu aparelho de mp3, não pensou duas vezes em puxar os fones e colocá-los. Ligou-o rapidamente, e ficou escutando a musica enquanto olhava para o teto tão notório.

Sua mente parada ali, naquele pensamento grotesco. Sua visão parada naquela imagem tão transparente. Sua audição girando entorno que um ritmo variado, de tons e amplitudes diferentes. Seu tato havia encontrado algo diferente no bolso de sua vestimenta defumada, pelo ríspido odor da nicotina.

Aquele papel que se encontrava no único bolso de sua camisa. Aquele pedaço de celulose marcado em tinta preta. Os três dígitos escritos pela matéria tingida, no realce do preto e do branco, marcados em um papel de guardanapo. Aqueles números eram de maneira estranhos, pareciam ter profundidade na escritura do papel branco. Os números se misturavam e se repetiam. Colocou o papel sobre o peito, como se este sangrasse de sua pele. Como se fosse uma perfuração em seu tórax, atravessando seu coração.

Deitado ali, na cama de seu quarto, olhando para o teto, escutando musica, com sua boca aberta, com um papel sobre o peito. Assentado ali, com seu espírito incansável, o qual quer descansar. Estirado ali, com seu corpo morto, querendo se levantar. Estendido ali, com sua mente apagada, querendo tornar a se iluminar.

Piscou, pela primeira vez, mostrando que seu corpo ainda estava vivo. Piscou, pela segunda vez, fazendo sua mente desviar o foco. Suavemente sua mão abriu para pegar o papel que descansava em seu peito, e colocá-lo na mesa ao lado da sua cama.

Desligou a musica. Levantou de seu prevê túmulo. Colocou os pés no chão e aos poucos foi se despindo enquanto se dirigia ao banheiro. No caminho de sua cama até o chuveiro deixava as roupas como um guia para poder voltar. Sua mente rezava para que um corvo viesse roubar-lhe as roupas, e que o caminho para sempre estivesse perdido.

Ligou a ducha e esperou a água esquentar. Como se o vapor da água lhe revivesse, colocou seu corpo sob a água, deixando que o solvente levasse embora o veneno que invadira seu corpo. Aos pouco seu animo voltou, como se o espírito inquieto acabasse com o silêncio de sua alma. Talvez sua mente também precisasse de um banho.

Desligou o chuveiro, e por rotina pegou a toalha verde que estava estendida ali por perto. Seus olhos se fechavam por cansaço, enquanto suas pernas se dobravam de cansadas. Aos poucos seus pés foram se arrastando até seu leito, onde sua mente o levava.

Ali naquele quarto conhecido, sob o teto amistoso, e sobre sua tumba matinal, sentou-se. Olhou para o papel que atormentava sua mente, corpo e espírito. Pegou uma caneta negra que se mantinha quase intocada, e escreveu no verso do papel o numero “100”. Deitou-se sem roupa alguma e dormiu sabendo que agora corpo, mente e alma, poderiam descansar sem remorso.

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Faz tempo que não coloco nada aqui.

Estou deixando o link do meu multiply, lá eu coloco algumas outras coisas.

Multiply do Henschel


Um abraço

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Na Mais Pura Vontade De Gritar

Na Mais Pura Vontade De Gritar
Por Guilherme G. Henschel

AHHHHHHHHHHHHHHHH!
Por que não me disseram?
Teria me matado, ou sei lá.
Teria quem sabe matado antes,
Sabe só para aliviar anteriormente.
Gritos mudos de dor e desespero,
Por que não posso gritar por alegria?
Fontes de conhecimento útil. Fontes?
Pontes. Carontes. “Ontens”, não.
Sorrisos falsos de poesia,
Dos homens na própria Desterro.
AHHHHHHHHHHHHHHHH!
Por que eu não escutei a minha mente?
Desista ela falava, mas nãoooo!
Eu não podia desistir, não é?
Não, Eu sabia não vou enganá-lo.
Como queria poder GRITAR!!!!
Alto, Para o Alto, Bem ALTOOOO!
Dar um Salto.
AHHHHHHHHHHHHHHHH!
Por que fui um tolo?
TOLOOOOOOOOOOOO
Nada além de um tolo, atolado.
Idolatrado por falsos adoradores,
Visto como ídolo por ruins oradores.
AHHHHHHHHHHHHHHHH!
Posso gritar aqui em paz?
Não, não o suficiente capaz,
Escutou bem rapaz?
AHHHHHHHHHHHHHHHH!
Consigo te ignorar?
Não somente se me desejar.
AHHHHHHHHHHHHHHHH!
Na Mais Que Pura Vontade De Gritar.
AHHHHHHHHHHHHHHHH!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Orla de Espinhos

Orla de Espinhos

Eu te vi na orla de espinhos. Não sei o porquê, não sei o motivo, apenas vi ali, entre a queda e o corte, entre a dor e a morte. Por que te jogas nos braços alheios em busca de segurança? Por que te jogas precipício a baixo quando poderias voar?

Eu te vi na orla de espinhos. Conheço tua dor, mas repudio-a, assim como repudio minha alma. Achas que uma queda vai acabar com tudo? Achas que depois da queda não haverá melhoras? Achas que tu podes desistir assim tão fácil?

Eu te vi na orla de espinhos. Ali entre o espinho e a queda, entre a verdade e a gloria, entre o sofrimento e a adrenalina. No filete de terra que te separas do céu ou inferno, no filete terra que te separas da queda eminente. Por que não te jogas de uma vez? Por que não desistes de uma vez? Tens medo de se arrepender no meio do caminho?

Eu te vi na Orla de Espinhos, prestes a pular no Abismo do Esquecimento. Não pulaste, foste jogado.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Poema Ébrio

De bar em bar cambaleio
Nada diferente de um arruaceiro.
Em uma mão a garrafa de Gim,
Na outra um talo de alecrim.

Na beira da praia sob o sol,
Ou quem sabe no pequeno atol.
Bebo minha gelada Cerveja,
Afim de que o amanhã frio esteja.

Na boca, o cigarro apagado,
No coração, um amor acabado,
No copo, uma tristeza morta,
Na vista... Uma rua torta.

No frio balcão do bar peço,
Quem sabe até me despeço,
Uma dose de Vodka pura.
Límpido veneno, amarga cura.

Na mesa de madeira com velas e cera,
Esperando o futuro de que minha vida será.
Bebo de minha fina taça o Vinho tinto,
Enquanto sobre meus sentimentos minto.

Na mão, um isqueiro flamejando.
No peito, uma dor aumentando.
Sobre pés, apenas pés a mais.
Na vista... ”Horizonte, porque te vais?”

No recanto quente da lareira,
Escuto o estalar da madeira.
Ali no meu copo de Conhaque,
Tento disfarçar o sotaque.

Na festa me encontro sóbrio,
Mas meu comportamento é ébrio.
Entre drinks e água, tomo Martini,
Meu dinheiro se vai, talvez até sublime.

No rosto, a dor me consome.
Na boca, o gosto de ferro,
No desejo, dizer que ainda te quero,
Na vista... O chão disforme.

Sobre água e lagrimas me debruço,
Tentando acabar com o meu soluço.
Minha tentação pela limpa Pinga
No meio da arenosa catinga.

No copo duas pedras de gelo,
Oh! Whisky. Como quero tê-lo.
Scotch, Irish, Tennesse, não importa.
Já que meu fígado não mais te comporta.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Escarlate e Negra

Escarlate e Negra

A serpente negra e escarlate se esgueirava pela superfície de pedra, da sala úmida e escura. A língua bifurcada da cobra se projetava para frente de maneira compassada, seus olhos fendidos demonstravam sua origem abissal. Seu sibilo agudo despertava medo, agonia e dor, como um projétil cortando o ar.

O réptil se aproximava com uma velocidade incrível, quase irreal. Seus anéis negros e escarlates avançando na direção do alvo de maneira quase hipnótica. O alvo da cruel víbora correndo de maneira descontrolada pelo grande corredor. Seu tornozelo desprotegido propiciava um ótimo lugar para mordida.

O bote rápido e violento - do ofídio negro e vermelho que projeta suas duas pinças brancas para frente – atinge, em cheio, a parte inferior da canela e superior do pé. A dor lacerante faz o homem cair no chão frio e úmido, enquanto dá um pulo de sua confortável cama. O pesadelo o atingira novamente, ele não mais consegue dormir.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Helena e o Anjo Negro

Helena e o Anjo Negro
Por Guilherme G Henschel

[Lúcifer]
Caído sobre a ruína de minha vitória.
Caído sobre a guarda de minha glória.
De que será de mim agora?
Guardar os portões do inferno nessa hora,
Morrer aqui já não me faz falta,
Quando minha barca está em alta.

[Helena]
Não chorais anjo caído.
Sei que teu amor nunca foi suprido.
Sei que teu nome é manchado,
Mas teu trabalho por mim é louvado.
Não chorais luz do inferno,
Não chegou ainda o inverno.

[Lúcifer]
Triste e condolente as margens do Stigia.
Mantendo sempre minha nobre vigia.
Triste e sobrevivente as margens do abismo,
Sou mal pela visão do homem e do maniqueísmo.
Devo me revoltar? Devo me vingar? O que farei?
De tudo, Nada Sei.

[Helena]
Nenhuma maldade fez anjo negro,
Acredito em teu coração integro.
Mesmo que destruição tenha causado,
Meu coração ainda tem te amado.
Sempre há um retorno,
Um ponto para um contorno.

[Lúcifer]
E quando se chegou no ponto sem retorno,
Do mais livre mundo, do mais barato suborno.
Quando demônios que guardo escapam,
Quando acordos não se reatam.
Quando o amor que sinto se esvaece,
E Deus não mais escuta a minha prece.

[Lúcifer & Helena]
No fim da terra espero por ti meu amor,
Que no fim da vida sentir teu calor,
Senti minhas (tuas) asas envolta de meu (teu) corpo.
Sentir que posso ser feliz mesmo que meu corpo esteja morto.
Sentir que no fim não posso mais falhar,
E então com segurança te falar
Eu Amo-te, meu Anjo.

[Lúcifer]
Em lagrimas minha espera termina
Que a terra não te oprima.
Mas tua alma é demasiada pura,
Não há feridas que tu não te curas.
No paraíso tua alma descansa,
Enquanto no inferno meu corpo se cansa.